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Salas de (des)espera


Às vezes somos convidados a esperar noutras salas, fora da nossa: as salas onde se espera. Desenganem-se os que acham que se esperará pouco: se assim fosse haveria UMA SALA para o efeito?
Estou então a passar algum tempo de qualidade numa destas salas e recordo-me que não gosto muito quando os outros fazem sentir demasiadamente a sua presença perto de mim.
No fundo da minha fila de cadeiras, um senhor já bocejou umas dez vezes. No fim de cada bocejo, sem cerimónias e de boca totalmente escancarada, o dito senhor solta uma espécie de gemido satisfeito, seguido de uma expiração ruidosa para rematar em beleza. Interrogo-me se devo aplaudir…
São para todos os gostos os artistas de sala de espera:
Os tambolireiros. Especializados na arte de bater com os dedos ou unhas numa superfície plana e sonora. Habitualmente criam um certo ritmo que deve, julgo eu, acompanhar uma melodia imaginária na cabeça do próprio. Para nós, que estamos de fora e não encomendámos o serviço musical, é a tortura. A cada pausa mais longa surge o alivio de pensar que o concerto chegou ao fim, mas logo a batucada seguinte nos mostra que não… Ainda não.
Os artistas do sapateado. Arte cada vez mais associada a homens de sapatos estranhos. Começa com um tímido bater de calcanhar que cedo evolui, com um entusiasmo quase infantil, para uma perigosa alternância entre calcanhar e biqueira do pé. Tende a acabar rapidamente após um ou dois olhares desencorajadores.
Os humoristas. Podem chegar acompanhados ou sós. Os primeiros são piores: já trazem plateia. Os outros vão tentando cativar um interlocutor na sala. Quando conseguem é o princípio do fim. Começa a lista de piadas sem piada, palavrões comedidos ou nem por isso, gargalhadas demasiado audíveis… enfim.
Há também o geme-quando-senta, o geme-quando-levanta, o range-cadeiras, o bufador-periódico, etc. E nem falei de telemóveis…
Quando esperarem numa destas salinhas, olhem em volta: todos esperamos, então esperem sossegadinhos e caladinhos e sem tantos ruidozinhos... 

Tem bichos-carpinteiros? Então leve-os a passear lá fora! O ar fresco faz maravilhas!

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